sábado, 29 de março de 2014

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vou ser trabalhador,
de borra tintas na mão
vou ter o meu salário
só para que o operário
viva ao ritmo do canhão.

num sono polifásico para maximizar a produtividade,
tratar gente por animais para potenciar a desumanidade
e na humildade do meu manto
mancho-me com o meu encanto

enquanto entoo esta canção,
sem censura que se lhe digne:
ninguém guarda o pastor,
o que eu digo cabe-me a mim.

fui homem de muitos amores
(se é que os posso chamar assim),
passaram por mim muitos autores
(poucos saíram como primeiro os vi).

dizem que nem homem sou,
que só sorrio porque outro se calou
mas o meu ofício só isso me permite:
sou feliz no teu silêncio, eu admito!,

mas lá porque sou pago por rabiscar o teu trabalho;
mas lá porque sou pago por fazer de ti o meu gado;
mas lá porque sou mau por te querer no caralho
não sou mais monstro do que quem quer a revolução,
eu vivo bem, se os outros não é mais problema deles do que meu:
cada um por si e todos pelos seus!
por entre mantos e véus promentem surgir
mas a verdada não é de ninguém,
só se a roubarem a quem a já tem.

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