segunda-feira, 30 de junho de 2014

Ode a Neruda

sempre que bebo café sozinho
o neruda senta-se na minha cadeira
eu bebo meu café em pé assim
como quem quer fumar um cigarro à varanda
e esses dois, o meu e o dele
caem lentamente como as torres gémeas em
nova iorque
a minha tragédia pessoal

o ambiente fica sempre pesado
eu nunca fui homem suficiente
para me oferecer a tirar-lhe o casaco
mas não estou errado,
ele sabe que fazemos todos o mesmo
há-de ter havido quem tenha morto
bem mais espanhóis que o alvares pereira
mas alguém se esqueceu de apontar
o seu nome
e agora é como se esses espanhóis
nunca tivessem morrido
somos nós a dar o limbo da existência
o purgatório cruel a gente do passado
com as nossas palavras assertivas
e os nossos factos radicados.
o alvares pereira devia ser um filho da puta.
o neruda é um filho de uma puta.
mas escreve como um
e há-de ser por isso
que está por aqui agora.

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